TRADIÇÃO, FÉ E EMOÇÃO NA FESTA DA PADROEIRA BOMBINENSE

O sol iluminou ainda mais a manhã 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora dos Navegantes, Padroeira de Bombinhas e homenageou a Santa com muito calor e luz, desde os primeiros raios da aurora. Logo após clarear o dia o burburinho da comunidade já se fazia presente tanto no salão paroquial, quanto na nave da igreja que recebe o nome da Padroeira, localizada no bairro Centro, Praia de Bombinhas. Enquanto no andar superior os homens temperavam a carne do churrasco e as mulheres preparavam o almoço, na igreja o cortejo dos festeiros trajando suas vestes domingueiras ocupavam seus lugares, carinhosamente e solenemente reservados.

A celebração de Nossa Senhora dos Navegantes é sempre um momento muito especial, onde os devotos agradecem, louvam e pedem a Virgem proteção para mais um ano de labuta, especialmente os pescadores, os que estão em terra lembram dos amigos embarcados e daqueles que perderam a vida no decorrer do ano que passou. A missa, pelo terceiro ano consecutivo, foi presidida pelo pároco de Bombinhas, Padre Silvano Oliveira, que ao final convidou os pescadores a se prostrarem ao lado da Padroeira e em coro rezaram pela categoria, proporcionando um dos momentos mais emocionantes da celebração.

No meio da tarde novamente os fiéis se reuniram na nave da Capela de Nossa Senhora dos Navegantes para receberem a Bênção de São Brás, que comemora seu dia em 3 de fevereiro, em seguida iniciou-se a procissão por terra e mar com o andor da Padroeira nos ombros dos pescadores, que se revezavam para que todos tivessem a oportunidade de servi-la, e o Sagrado Coração nos ombros das mulheres. Este ano o barco de arrastão de camarão “Saga de Viking” levou orgulhosamente a Santa e a comitiva litúrgica, conduzidos pelo Mestre Gilberto Vergistro Mafra, conhecido como Beto ou Giba, que se aposenta em 2017, após 11 anos de trabalho nessa embarcação. Beto fundeou o barco na manhã de quinta-feira, unicamente com o propósito de cumprir essa missão, e já retornou para alto-mar no dia 4. Sua esposa, Irinete Mafra, fala do sentimento de toda a família em ver o patriarca com essa honraria: “Foi muito emocionante, o Beto me falou que queria muito no seu último ano na pesca levar a Nossa Senhora, foi um dia muito especial pra ele. O Beto ficou muito feliz e eu também, foi um dia de bênção, tenho certeza!” Ao sair do trapiche da Prainha o Mestre fez questão de conduzir a embarcação, que navegou o tempo todo ao som de orações a cânticos, até a praia da Sepultura, e somente então pelas praias de Bombinhas e Bombas. “O intuito em passar pela Sepultura é para que o ano seja abençoado na safra de tainhas, como foi no ano anterior, que o barco da Santa também passou por essa praia”, explica o proprietário do “Saga de Viking”, Reginaldo Pinheiro.

O festejo de Nossa Senhora dos Navegantes com a procissão pelo mar, acontece em Bombinhas desde 1929, em meados dos anos 80 até final da década de 90, houve uma parada no cortejo pelo mar, o que causava desagrado na comunidade, especialmente nos pescadores. No ano 2000 retomou a procissão pelo mar e desde então é realizada todos os anos. A de 2017 contou com a participação de cinco embarcações pesqueiras (sendo três industriais, uma artesanal e um caíco), três lanchas e três embarcações turísticas.

Ao retornar do mar a procissão voltou à igreja pela praia, como era no passado, repetindo o gesto de 2016, onde o padre Silvano fez questão de retomar o costume.

A festa de Nossa Senhora dos Navegantes encerrou o dia com uma domingueira no salão paroquial, depois do empenho no festejo da Padroeira, a comunidade se deu ao luxo de dançar, rir e confraternizar até as 23 horas, com a certeza de ter feito o seu melhor. A domingueira também é uma tradição arraigada que foi extirpada durante alguns anos, o que causava certa lástima entre os locais. No ano anterior padre Silvano permitiu o retorno desse costume, e dessa forma, a comunidade voltou a ter o festejo completo, como nos saudosos anos de antigamente.