O RECONHECIMENTO DE UMA TRADIÇÃO
No domingo, 5 de maio, foi realizada a Missa de Abertura da Pesca Artesanal da Tainha, na praia de Bombas, um acontecimento tradicional, organizado pela comunidade pesqueira, com o apoio da Prefeitura de Bombinhas, por meio da Fundação Municipal de Cultura, e da Paróquia de Nossa Sra. da Imaculada Conceição, este ano em sua décima primeira edição.
Como acontece todos os anos, a cerimônia emocionou os presentes com a beleza e leveza dos ritos litúrgicos agregados aos artefatos da atividade, prova disso é o ofertório vivo apresentado com redes de pesca, produtos da terra, a réplica de duas canoas de um pau só, farinha de mandioca, uma luminária conhecida entre os locais por “pomboca”, e quatro pequenas tainhas pescadas ao raiar do sol domingo na Praia do Retiro dos Padres. Também considerado um momento emocionante, a passada da rede de pesca, conduzida por uma moça representando Nossa Senhora, é sempre muito aguardado tanto pela comunidade, quanto pelos visitantes que participam.
Entretanto, a solenidade oficial de início da pesca artesanal da tainha em Bombinhas este ano somou um acontecimento há muito aguardado pelos pescadores, sonhado mesmo, e finalmente concretizado: a entrega do Termo de Registro de Patrimônio Cultural Imaterial de Santa Catarina da “Pesca Artesanal da Tainha com Canoas de Um Pau Só” ao município de Bombinhas, pela Fundação Catarinense de Cultura – FCC. O momento, realizado na Ação de Graças da missa, contou com as presenças do prefeito Paulo Henrique Dalago Müller, da presidente e do historiador da FCC, Ana Lúcia Coutinho e Rodrigo Rosa respectivamente, da presidente interina da Fundação Municipal de Cultura, Tábata Torres, do representante do Ministério da Cidadania, Alexandre Gouveia Martins, dos Mestres da Cultura Tradicional na categoria pesca artesanal, Zequinha Olímpio e Naro Pinheiro, representando os pescadores bombinenses, além do celebrante da missa, padre Silvano Oliveira.
A historiadora e antropóloga Ana Lúcia Coutinho, presidente da FCC, enfatiza a importância do reconhecimento para as novas gerações, porque fundamenta o repasse dos saberes: “este momento hoje aqui não tem preço em nível de Brasil, porque esta comunidade juntou a pesca da tainha com seu principal instrumento para adentrar o mar para pescar o peixe, que é a canoa de um pau só. Então, só temos a agradecer a iniciativa da Fundação de Cultura de Bombinhas por ter acatado esse anseio dos pescadores locais”.
Mestre Naro no alto de seus 93 anos e dono do título de pescador mais experiente de Bombinhas, não escondia sua alegria com o registro: “pena que isso aconteceu agora no final da minha vida, se fosse antes quanta coisa eu poderia ter feito! Agora fica para as novas gerações, e com certeza o repasse está garantido”.
A “Pesca Artesanal da Tainha com Canoas de um Pau Só” praticada em Bombinhas é uma manifestação cultural reconhecida pela comunidade pesqueira, e teve seu processo de registro iniciado em 2017 quando a Fundação Municipal de Cultura entregou à FCC um ofício, endossado pelo Conselho Municipal de Políticas Culturais – ComCultura, dando ciência à Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural sobre a intenção da comunidade em ter reconhecida sua tradição como patrimônio catarinense. Assim, foi elaborado um dossiê, com a anuência e acompanhamento dos pescadores artesanais. A “Pesca Artesanal da Tainha com Canoas de um Pau Só” ocupa o registro de número quatro, no livro I, Dos Saberes, sendo a terceira comunidade pesqueira em Santa Catarina a ter sua tradição formalmente registrada pela FCC, as outras duas são as comunidades do Campeche em Florianópolis, e de Laguna.